Acho que meu amigo Harry Chessyre, herói do meu livro-companheiro
Girlfriend 44, anda lendo meus pensamentos. No pedacinho que eu li ontem, ele descreve
exatamente a teoria que eu estava apresentando pra
Mari outro dia.
Eu estava mostrando pra ela que tem uma lista de brigas clássicas de casal (que deveria ser impressa em papel couché e distribuída em postos de saúde) que, de tão clássicas, são muito facilmente evitadas, e quem entra nelas só entra porque quer.
A mais clássica é aquela em que a moça (no meu caso) fica em silêncio por um tempo, ou faz uma cara triste (ou que você deduziu no seu delírio que era triste). Em vez de deixar rolar um pouco, sentir o que está acontecendo, você não se aguenta de insegurança, e já acha que a outra pessoa, por algum motivo, se emputeceu. Nos casos mais crônicos, já sabe até porque ela está brava, foi aqueeeele comentário que eu fiz sobre a fulaninha amiga dela outro dia.
Ele: Tá tudo bem?
Ela: Tá.
Ele: Mesmo?
Ela: Mesmo. Por quê?
Ele: Não, nada, é que você fez uma cara.
Ela: Que cara? Tá tudo bem, Fulaninho. (leve alteração no tom de voz, irritação)
Ele: Tudo bem, não precisa falar assim.
Ela: Assim como?
Ele: Ah, deixa pra lá.
Ela: Não, fala, o que foi?
Ele: Nada. (tom blasé chateado)
Ela: Fala, Fulaninho, o que foi?
Ele: Já disse, nada.
Ela: Putz, não dá mesmo pra conversar com você.
Ele: Mas o que foi que eu disse?
etc. etc. etc.
Bom, todo mundo já sabe onde isso vai dar. Tudo porque a moça lembrou da prova de segunda-feira ou da conta negativa no banco ou do dia difícil no trabalho. Volta no tempo, tivesse deixado passar, ou melhor ainda, tivesse só colocado a mão na perna dela ou dado um beijinho (não recomendado para situações no trânsito), em mais 10 minutos vocês chegavam no restaurante bacana, pediam um vinho, e a vida tinha menos crises de gastrite.
No livro, o Harry está com nossa heroína, Alice, e ela fica em silêncio, lendo um livro. Ele explica como são difíceis esses silêncios, e que bem mais fácil que ter a sensibilidade de detectar (ou ao menos tentar detectar) o que quer dizer o silêncio da moça é mandar o "tá tudo bem?". E descreve um diálogo semelhante. E completa: numa dessas, o cara consegue confirmar que a moça estava (não estava) realmente irritada e inclusive a culpa da briga é
dela, que estava de mau humor
in the first place. Da série "Como estragar seu relacionamento com brigas bestas".
No proximo programa, "No carro: a escolha do caminho".
É, depois dessa, acho que posso finalmente escrever meu "Alta Fidelidade" ou "Namorada 44". Na verdade, acho que todo o povo autoproclamado blogueiro um dia já pensou nisso (ou pensa todo dia). O problema é que eu acho que vou ter que mudar de país. Bom, isso pode não ser um problema.