O que para muita gente é o único jeito de ir trabalhar, visitar os parentes ou fazer compras no shopping, pra mim virou uma aventura ferroviária. No meu 15º ano de São Paulo, a falta de carro e uma mãe morando no interior me deram pela primeira vez motivo pra andar de trem.
Pra não correr o risco de amarelar, nem fui em casa. Acordei da baladinha e me meti no metrô. Pra criar melhor o clima, passei no camelô e comprei um radinho de pilha (provável novo companheiro, junto com mochila e jornal), umas pilhas e umas Gillettes baratinhas, porque, além de ir de trem pra Mogi das Cruzes, tinha programado pra esse sábado fazer minha barba de três semanas.
Planejei tudo no começo da semana. Conferi o itinerário na internet. Na estação Brás, foi bem fácil. "Ferrovia" nas placas. Um divisória cravada de espinhos indicava que muito trabalhador deve ter economizado a passagem pulando aquela barreira.
Felizmente, a única muvuca nesse dia era da molecada indo pra Marcha para Jesus. Acho razoável assumir que crente é do bem e que bater carteira no trem é pecado.
Tenho que confessar: estava tremendo com meu medinho de garoto burguês. Medo de muito tempo lendo e escrevendo sobre depredações, assaltos e barbaridades assim.
O trem que vai até Guaianases é o espanhol, bem conservado e confortável. Se fechar o olho, com aquele barulhinho, dá até pra lembrar da Europa. Se abrir o olho, o cenário é a zona leste da cidade, uma paisagem bem baixinha, dominada por tijolo e concreto aparentes.
Em Guaianases, troca pelo trem velho, sujo, rabiscado. Quando eu já estava achando que o clima tinha mudado pra uma coisa interiorana, rolou um corre-corre de seguranças na plataforma, e fiquei tenso de novo.
Mas logo chegou em Mogi, e tava um sol gostoso, e tocando Cidade Negra no alto falante da estação. Esquisito como uma viagem de trem de subúrbio pra Mogi das Cruzes pode ser divertida. Enquanto esperava o ônibus pra Guararema, resolvi que era melhor não voltar de trem à noite.
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