quinta-feira, julho 29

Kronenfilial

72 horas... 72 horas...

O Moacir, ex-estagiário gente fina do Filial que virou garçom, trouxe o suco de laranja, procurando a mocinha que tinha pedido. Fez cara de incrédulo quando eu levantei a mão, fez cena, quis levar embora. Mas eu tomei. E depois peguei pesado: Pepsi, gelo e limão. Chegou uma hora que eu achei até que aquela água com gás dava dando um baratinho. Ou então era a overdose de cigarro, que resistir a dois vícios de uma vez não dá.

Mas durou, e as pessoas começaram a falar enrolado, começaram a rir bem mais do que eu, e ir bem mais no banheiro do que eu (se bem que fui bastante, porque tamava aquela Pepsi compulsivamente). Resultado da noite: conta 50% menor, ressaca 100% menor, satisfação pessoal 100% maior. E todo mundo "menino, que orgulho!". Mesma coisa ontem, latinhas de Skol na minha frente, e eu agarrado na garrafa de Coca.

Hoje é a última noite, amanhã os exames. Fica rico quem abrir um boteco do lado desses laboratórios. Brinquei que meu plano era sair de lá, 7h de manhã e tudo, e pedir um Dreher, uma Skol e um rabo de galo. Mas era só brincadeira. Parece que tem fase pra tudo na vida, e essa, au acho, é uma que está passando. Outras também.

Minha história do Orkut
Todo mundo tem a sua, eu me permito: uma menina disse que tinha estudado comigo na primeira série, eu num lembrava (claro) e coloquei lá no álbum uma foto da turma do prezinho pra ver se ela se achava. E dois caras que eu desconheço totalmente já me disseram "ei, eu tô nessa foto, sou o X da esquerda pra direita". Surreal.

segunda-feira, julho 26

Onde isso vai parar?

Novidade velha e que só agora faz parte do minha rotininha diária: mensagens de texto. Finalmente, a TIM aboliu sua política isolacionista, ficou amiga das outras operadoras e agora posso trocar torpedos (péssimo esse nome) com todo mundo que conheço.

Você vai aos poucos identificando as pessoas que realmente lêem isso, pras outras nem adianta mandar. E o que antes servia só pra mandar um recado engraçado por baixo da mesa pro amigo que também tem celular TIM virou uma espécie de MSN portátil, um jeito bacana de dizer coisas sem precisar ligar e dizer mesmo. Ideal pra dizer "kd vc?" no meio da pista lotada, ou pra dizer "dorme bem" no final da noite.

Na Austrália (acho que ninguém mais aguenta frases minhas que começam com "na Austrália"), é mania, todo mundo usa o tempo todo, especialmente quem tem pré-pago (como eu), porque sai bem mais baratinho.

E quando você tá falando com a pessoa, precisa anotar um endereço, e tá no trânsito ou qualquer outro lugar em que não dá pra pegar uma canetinha um bloco? Pede pra te mandar o endereço por SMS. Genial. E dá pra mandar mensagens internacionais, pelo mesmo preço, o que é bem divertido (amigos residentes no estrangeiro, mandem seus telefones). Fantastic.

Traaaaaagédia
Tem que fazer trocentos exames no Fleury. Eu ouvindo as recomendações no telefone:
- 12 horas de jejum...
- Hm.
- Anotar os medicamentos que tomou nos últimos 30 dias...
- Hm.
- Não ter feito exame neuro%#$*&-alguma coisa...
- Hm.
- E não beber nada alcóolico 72 horas antes.
- ...
- Sr. Rapaz? Alô? Alô? Sr.? [tu tu tu tu]

domingo, julho 25

Sonoterapia

Até no sonho sou um glutão. Como não fazia há uns 26 anos, dormi mais de oito horas duas noites seguidas. Dormi tanto que sonhei pra burro e lembrei. Nessa noite, primeiro eu estava num set de filmagem, e alguém me botava pra operar a câmera. Ela andava naqueles trilhozinhos de cinema, atravessava uma rodovia, era uma cena de sertão seco. Mas dava errado e tinha que fazer de novo outra hora. Aí já estava de noite, e toda a equipe da filmagem estava lá dessa vez, e quando eu fui, todo pimpão, sentar no carrinho da câmera, um cara deu uma risadinha como quem diz "você não acha que vai fazer isso, né?". Sorri amarelo, saí todo constrangido. E já não era mais sertão, era deserto. Cortou a cena e eu estava num mesa abarrotada de chocolates, e a Nestlé (resquícios da conversa do jantar) patrocinava o filme. Tinha chocolate à vontade, inclusive um novo, que era tipo uma barrinha de cereal com chocolate em volta. Tinha bebidas também, e como nos sonhos as coisas são (em geral) perfeitas, Yakult era da Nestlé. Acordei uns três quilos mais gordo.

Foi o segundo final de semana sem sítio, e já estou arquitetando uma folga na sexta pra compensar. Mas valeu pelas horas de sono sem despertador, pelas comidinhas, pelo cinema, pelas festas. E ainda vai valer pela comida sensacional que vou comer no Acrópoles daqui a pouco (isso que eu prometi nunca voltar lá aos domingos). Homenagem à Olimpíada, digamos assim. Vou fazer uma maratona gastronômica. Hohoho.

PS humorístico
Me disseram essa semana: "Uberlândia inteira já conhece a piada do siri". Que orgulho! De Uberlândia para o mundo!

quinta-feira, julho 22

Vida bem ordinária

Tava tocando Deadweight, do Beck, e eu achei legal a rádio tocar esse som. Só quando entrou a música dois é que me dei conta que era meu CD da trilha sonora de A Life Less Ordinary, que eu esqueci no firma-móvel há duas semanas. Era perfeito demais. Entrando na República do Líbano, pulando pra música três, música de zigue-zaguear no trânsito berrando o refrão.

Quando me dei conta, estava na última faixa da direita, obviamente precisando estar na última da esquerda. Corta todo mundo, buzina, freada, parei com mãozinhas levantadas pedindo desculpas, e fiquei ali, mentalmente ouvindo o carro do lado me xingar. O motorista, quero dizer. Esse mesmo que em seguida abriu o vidro, e eu achei que ia mandar um "puta que pariu, folgado do caralho". Só virei quando ele chamou pela segunda vez:

"Por favor, a Brigadeiro, como faz?"

Meu cérebro respirou fundo e sorriu, e subi a Brigadeiro voltando a música várias vezes pra ver se a letra, que eu nunca presto atenção, tinha alguma coisa a ver com aquilo, com Strattera, com almoços de sexta-feira. Só pra dizer "nuossa, que coisa, que coincidência!". Não entendi uma palavra, e só agora cheguei aqui e vi que é a música (por sinal, A Life Less Ordinary, do Ash) é uma viagem do cara, dizendo ora que a mina é uma Deusa branca, depois a estrela mais linda do mundo, na língua (mesmo) dele. Mas o refrãozinho, que era única parte que eu entendia, pode até se encaixar em algum lugar, com um desconto e umas caipirinhas:

Take me in your arms again
Lead me in my dreams again
So, what is it worth?
I'll sell my soul
What is it worth?
Only you know


PS musical
O CD desse filme é um dos muitos preferidos. Nem sei por qual música comprei, acho que não conhecia nenhuma, hoje gosto de tudo. Consegue ter essa música do Ash que está no top 10 "angústia eufórica" (junto com Australia, do Manics), e logo depois ter Beyond The Sea, que é da catiguria "sai dançando pela sala de toalha", sabe? Pulando no sofá, fazendo dancinha... Tem ainda uma que chama Peace In The Valley, que é um country feliz com refrão felizão.

terça-feira, julho 20

Pés gelados

Alguém desliga o ar condicionado do mundo? Máxima de 16ºC não está ajudando em nada. Pelo menos hoje não está chovendo, ontem me molhei pelo centro inteiro, mostrando o que deu para umas primas do meu já tradicional Roteiro Turístico Básico Histórico (cobro barato).

Quando achei que minhas pernas iam tremer embaixo da mesa o dia todo, o MSN piscou com uma xícara de chá mate na copa. E nem era chá de erva cidreira, meu preferido de todos os tempos. Tudo bem, se fosse, eu já estava babando no teclado. Tentei imaginar alguma metáfora besta sobre chás e resultados de exames, mas desisti logo.

Só sei que estou sentindo meus pés agora, e parece que é a água quente do chuveiro queimando a pele gelada no banho de manhã de inverno. Disseram que ia abrir sol até o final da semana. Se o David Byrne continuar cantando no meu ouvido, acho que consigo chegar inteiro até o trem de Mogi no sábado.

PS musical
Embora seja mesmo o David Byrne que esteja cantando no meu ouvido, a novidade sensacional da semana na pasta Minhas Músicas é o último CD do Prince. "Musicology" é tipo James Brown, ou seja, tipo muito bom.

sexta-feira, julho 16

Bom dia, jornal

Entrei no azul. Ainda pagando todas as dívidas da viagem pra Austrália, mas sem ninguém no meu cangote. E melhor do que o alívio de ver minha conta bancária positiva, e ter dinheiro pra comprar pãozinho no café da manhã, é retomar meu encontro diário com o jornal.

Quando fiquei desempregado, sem carro e solteiro, tudo ao mesmo tempo, ele (o jornal) virou uma putza companheiro. Uma amiga disse no primeiro ano de faculdade que gostava tanto de jornal que, se pudesse, dormia com ele. Acho que ela não pensa o mesmo hoje, nem eu, mas praticamente faço isso.

Nessa noite, quando cheguei às 4h da manhã, ele já tinha chegado. Putz, fiquei muito feliz. Fiz como sempre fazia, fui no elevador tentando ler a primeira página sem tirar do saquinho azul. Depois li mais alguma coisa antes de capotar.

E hoje de manhã, fiz meu café ansioso pra sentar na mesa com ele. Ler Dora Kramer. Ler horóscopo. Escolher um monte de restaurante pro final de semana e não ir em nenhum. Saber que filme está saindo. Ler política pra ter assunto. Ler economia por vício mesmo. Empestear a mão de tinta (e a casa inteira). Espalhar cadernos pela casa. Reconstituir o jornal, meter no saquinho, e levar no busão debaixo do braço. Recortar tirinhas do Calvin e pregar na geladeira...

Já achei que isso era símbolo de como trabalhar em casa era um saco, e solitário. Mas hoje foi uma delícia, e um alívio, dizer "bom dia, jornal".

quinta-feira, julho 15

Dog days

Do you remember when we used to sing?
Sha la la la la la...

My brown eyed girl...

Van Morisson, tocando agora na Virgin


Achei que passar a gostar de cachorro, e até deixar eles subirem em mim e morderem minha mão, já era transformação suficiente. Mas ficar com saudade, achei um pouco demais. A principal culpada é a Dona (Donna?), a labrador de cinco meses que mora no sítio da minha mãe. Ela é bem levada, faz número 1 e número 2 onde não deve, rói ponta de mesa. Mas corta meu coração quando fica chorando depois que a gente tranca ela no canil. E me deixa bobão quando deita no sofazinho e fica vendo TV comigo.

Me ofereceram um sheep dog de 12 dias, de graça. Ainda bem que a Nana disse que é um cachorro super mala, porque eu já tava querendo alugar meu apartamento e morar num sobrado pra ter cachorro me esperando todo dia.

Se eu quisesse ganhar uns trocos fazendo análise de boteco, ia juntar isso com o fato de minha vida de solteiro estar completando aniversário e dizer que era pra preencher um vazio. Ainda bem que não sou terapeuta.

segunda-feira, julho 12

Fuera diablo!

Bizarrices religiosas da semana:

  • saindo de casa correndo (literalmente) pra festinha de quarta no Copan, arremesso a porta do elevador e... *&%#@!!! Me esborracho no chão! Na próxima fração de segundo, estou deitado em cima do porteiro, apavorado (eu mais que ele). Depois o esquisitão me explicou que, de madrugada, ele deita ali naquele tapetinho com sua mini-bíblia pra fazer a oração. E que eu saí rápido demais do elevador, só deu tempo de ele se proteger. Extremamente bizarro.

  • sábado pra domingo, voltando de Campos do Jordão pra Guararema, 4h da manhã, o CD pulando na estrada de terra, e só pegava rádio evangélica. E era um cara pregando em portunhol mal falado. E sem menor noção do plural: "Gracias, senhor! Ó, senhor misericordiosso, dios todo poderosso, abençoa toda as carta aqui sobre messa! Abençoa todo o pueblo de la tierra! Fuera diablo! Fuera diablo!". O cara gritava tanto que a gente ficou com dor de garganta só de imitar. E depois de mais uns copinhos de cachaça, a programação dominical da Rede Vida virou programa humorístico.

    Aleluia!
  • sexta-feira, julho 9

    Para minhas lindas inspirações (agradecimento)

    Depois de um torpedo de boteco, a gente começou a brincar de inventar poemas, pra tirar um sarro. E me fez lembrar que uns 10 ou mais anos antes eu passava o tempo na aula de portugês fazendo poeminhas, inventando sonetos decassílabos. Numa malandragem insconsciente, fazia livrinhos no Word e distribuía pras mocinhas do colegial do Dante, que ficavam encantadas.

    Bebum, subi no banquinho e catei os livrinhos na pasta em cima da prateleira do depósito. Li um por um. Dei uma sorte muito grande que resolvi escrever a data de cada poema no pé. Fazendo umas contas, consegui lembrar de quase todas as meninas que ganhavam poemas. Lembrei também que teve muitos que fiz num parnasianismo besta só pra passar os 45 minutos da aula. Teve um que foi redação, e tirou 10. Achei tudo meio brega, sem graça e abarrotado de clichês. Cheio de frases de efeito, palavra, ponto final, rimas que chegam a ser engraçadas hoje. Mas me fiz lembrar que tinha de 14 pra 16 anos, e que pra uma criança (que não deixei de ser) daquela época, achei, modéstia às favas, muito bacana.

    Os que eu curti mais relendo, pelas minhas contas, eu fiz pensando na Tati, minha namoradinha surreal e inacreditavelmente linda da oitava série. Que reapareceu no Orkut de tanto que eu procurei. Thanks. Pelo jeitinho que me deu um sofrimento capaz de produzir a parte mais bacana desse livrinho.

    É claro que o objetivo inicial desse post era reproduzir o livro, então não vou demorar mais. Vale rir.

    Começava com uma dedicatória, escrita assim mesmo:

    Para
    Minhas lindas inspirações
    Me fazendo sorrir
    Me fazendo chorar
    Mas sempre vivas em meu coração.


    Depois tinha índice e tudo, e vinha um primeiro poema que eu não curti tanto, nem sei pra quem foi feito. Pula. O seguinte é certamente pra Tati, no começo do sofrimento.

    Desespero

    NÃO, NÃO, NÃO!
    Não posso mais
    Ver como ele te satisfaz
    Vê-lo ao teu lado
    Me mantendo calado
    Com este amor guardado.

    Meu coração pulsa aflito
    Querendo expelir este amor infinito
    Não posso mais agüentar
    Sem te confessar
    O quanto te amo.
    Enquanto isso, nada faço
    Quieto fico, não demonstro um traço
    Que denuncie meu amor
    Que só me causa sofrimento e dor.

    Prolongando a minha espera
    Te esperando, ah! quem me dera
    Quem me dera te beijar
    Teu coração possuir
    E o meu sossegar.

    Porém não adianta se iludir
    Enfrentarei todos os obstáculos para chegar a ti
    Tocar a tua face
    Não mais estar sozinho
    Ah! se ao menos me notasses
    Notasses como transbordo de carinho.

    Mas não te culpo, não é direito
    Não se controlam emoções
    Que o destino faça o que deve ser feito
    Torço eu para que una nossos corações

    Outubro de 1991

    Desculpa, é absurdamente brega. "Transbordo de carinho"?!? Ugh! Vou pular um, passo pra outro que era um dos meus preferidos na época. Deve ser pra Tati ainda.

    O Apocalipse
    segundo um poeta apaixonado

    Um coração agora vazio
    Procura um motivo, uma esperança
    E enquanto isso espera, frio
    Recordações, velhos momentos, lembranças...

    De repente, a descoberta
    Um lindo amor até então contido
    O coração da ingenuidade desperta
    E basta um olhar para estar seduzido.

    Com o tempo, vem o fantástico
    Uma mistura de prazer e espanto
    Num momento, o beijo mágico
    A união é pura, transforma-se em encanto.

    Estão entregues um ao outro, enfeitiçados
    Experimentando o amor com inocência
    Deixando-se levar pelo inesperado
    Ecantadora sensação da nova experiência.

    Se amam e se querem intensamente
    Muito tempo juntos pela frente
    Mas a fragilidade é aparente
    E tudo acaba, de repente...

    Ao acaso de olhar de sedução
    Aquele amor que jamais acabaria
    Vê seu fim num momento de traição
    E acaba tudo. Toda fantasia, toda a poesia.


    Só restam lembranças
    Talvez uma esperança
    Não mais o quer agora
    Seu coração partido chora
    Por alguém que ainda ama
    Por um momento...
         ah! momentos.
    Às vezes tão pouco tempo
    Causa tanto sofrimento
    Num coração apaixonado

         Que espera
         Que sofre
         Só por ti

    A quem eu ainda amo
    Apesar da negação
    Depois de uma revelação
    De uma decepção
    Continuas sendo minha doce inspiração
    Minha eterna paixão.

    Dezembro de 1991

    E segue a saga brega... (pode pular).

    Condenação

    Que fará um homem
    Que do seu coração fizer vazio
    Frio, só?
    Sem amor não há vida.
    Só há vida para o amor.
    Amor de poucos que o tem
    E de outros que o buscam
    Sem jamais tê-lo.
    Injustiçados.

    Será injustiça
    Se amor não há para um homem
    Que vive somente para quem ama
    Ama e sofre
    Condenado à solidão
    De um coração vazio.

    Um homem perde a sua vida
    Na busca vã da razão.
    Da causa vital, a paixão fatal
    Que justifique estar vivo.
    Vivo somente para amá-la.
    A lua caminhará para satisfazê-la
    Para no retorno não encontrá-la.
    Encontrar apenas o silêncio
    De um amor que se calou
    Condenado à solidão.

    Lágrimas lhe restam
    Por um amor que não mais tem
    Perdeu na falta de argumento
    No instante em que partiu
    A sua razão para viver.
    Seu amor hoje é de outro
    Que vem, e sem piedade
    Leva embora a felicidade
    Que jamais tivera
    Quando a tem, não há tempo
    De prová-la, de senti-la
    Vê sua vida se perder sem deixar vestígios
    Só lembranças de momentos curtos
    Tão curtos que se foram
    Para nunca mais voltarem
    Deixando um coração batendo fraco.

    Sem vida
    Pois a vida vem do amor
    E o amor se foi
    Acabou num instante
    Amargo destino
    Condenado à solidão.

    Eterna.

    Janeiro de 1992

    Afe, essa dava um belo pagode, eu acho. Como sofre um adolescente. Pulando outros, teve mais uns para ela, outro pra uma mina que eu só olhava no pátio, de repente tem um que se chama "Uma Leve... Sensação De Amor". Acho que alguém me fisgou, e eu curti. Vem alguns por umas moças que eu até lembro que são. E dois anos depois vem esse:

    Infinito desejo

    Nem hoje, nem jamais
    Serei capaz
    Meu amor não se desfaz
    Teu rosto ainda traz
    Meu coração
    E o pranto então.

    Já tarda aquele inverno
    Mas é o mesmo momento frio
    Que se foi quando se uniu
    Meu lábio ao teu num beijo.

    Ele amou, ela sonhou
    E ao fim daquele mês
    A fantasia se desfez
    O silêncio tem sua vez.
    Sobre a mesma cama
    Uma lágrima (ainda a ama)
    Sua paixão, talvez insana
    Eternamente inesquecível... Tatiana.

    Julho de 1993

    Acho que foi a primeira vez que tive coragem de por um nome num poema. E foi mesmo num inverno, durante um mês, na minha caminha de solteiro, que a gente curtiu o namorico. Tem até erro de português, mas é muito bacana lembrar.

    Depois, estudando sei lá que movimento literário, deu na telha de fazer sonetos, tinha até título com numeral romano, e fiz um pedaço separado no livrinho. É lá que tá esse, que é o último que eu tenho a manha de mostrar e paciência de digitar:

    Para Louise

    Se a tristeza resistisse
    E a luz não mais eu visse
    Talvez a vida se esvaísse
    Mas haveria sempre Louise.

    Teu sorriso é a alvorada
    Teu encanto te faz sonhada
    Por quem a alegria procura
    E a encontra na tua doçura.

    E se por amor te vi chorar
    Senti meu peito se apertar
    Por cada lágrima que caísse

    Dos teus olhos, e se já não o disse
    Se algum dia deste amigo precise
    Para o que for te acolherei, Louise.

    Novembro de 1993

    E um dia ela me falou esse poema de cor. Putz, era tudo muito brega e quase copíado do livro de literatura. Mas fiquei muito feliz que minha desorganização não deixou que esses livrinhos sumissem. Aceito encomendas.

    domingo, julho 4

    Eu quero uma casa no campo

    Cada dia faz menos sentido passar o final de semana em São Paulo. Agora tenho múltiplo de 10 da CPTM, e já descobri que na Luz a conexão Metrô-trem não é de graça, tem que ser no Brás.

    Pela primeira vez desde que minha mãe mudou pra Guararema, vou dormir aqui duas noites seguidas. Claro que ter internet ajudou bastante. Mas me dá mais e mais uma sensação de querer ficar por aqui, apesar das promessas não cumpridas de acordar cedo e caminhar.

    Se fosse só a grana, já valia. Ia vir na sexta, acabei vindo no sábado de manhã, e nesse pequeno lapso de horas em São Paulo gastei mais de R$ 50. Com praticamente nada.

    É claro que não é grana. É o espaço, a vista, o cheiro de mato, o silêncio, a comida (a comida, a comiiiiida...). A comida da minha mãe e do vizinho, o suco na cama ao acordar, o cuscuz no café da manhã, o doce de leite caseiro, o chá de erva cidreira colhida na hora pra dormirzzzz...

    No feriado venho passar os três dias. Uma amiga me disse: "como você, tão baladeiro, aguenta ficar aí tanto tempo sem fazer nada?". Pensando agora, não é tão estranho assim. Quantas horas eu perdi no meu computador, no meu apartamento, no escritório, não fazendo absolutamente nada? Se é pra não fazer nada, melhor não fazer nada aqui, na frente da lareira. No mínimo, é mais barato.

    Malditos vietcongues!
    Na emoção de pegar meu segundo DVD na locadora, acabei na prateleira de filmes velhos com Platoon na mão (adoooro filme de guerra). E tive uma idéia mirabolante: Festival Vietnã, três momentos.

    Tive a lucidez de ver primeiro Fomos Heróis, com o Mel Gibson. Não é tão ruim como eu tinha imaginado. Como muito filme americano, não precisava daquele final.

    Ontem à noite, nem com a dose cavalar de erva cidreira consegui dormir nas três horas do Apocalypse Now. Não sei bem como, mas não conhecia nem o básico do roteiro. Achei um putza filme, tive pesadelo e tudo. Acho que vou comprar, só pra ver várias vezes a primeira cena. E juro que foi sem querer que aluguei um filme com o Marlon Brando.

    Hoje à noite tem Platoon. Diabos, quantos helicópteros!

    PS linguístico
    Conversa no MSN com uma amiga chilena:
    Yo: Mi mama vive ahora en una casa... como se dice... fuera de la ciudad?
    Ella: Campo?

    quinta-feira, julho 1

    Fantasma

    Sonhar que eu voltava a trabalhar no Agora é sonho ou pesadelo? Mais engraçado foi lembrar assim do nada, na calçada, de havaiana, indo comprar pão pro café.

    Dever legal

    Tá na lei: no casamento e na união estável (seu namorinho de poucos meses, por exemplo), não precisa amar, mas precisa ser fiel. É o que diz o Código Civil, e o que eu tenho aprendido nas colunas semanais da dra. Regina Beatriz, uma das coisas mais divertidas de ler na revista.

    "Não existe dever legal de amar", diz ela. Mas existem, no casamento e na união estável, outras responsabilidades definidas em lei. E quem descumpre pode ser condenado a indenizar o outro. Entre esses deveres, não estar amar o outro, mas está ser fiel:
    Art. 1.566. São deveres de ambos os cônjuges:

    I - fidelidade recíproca;
    II - vida em comum, no domicílio conjugal;
    III - mútua assistência;
    IV - sustento, guarda e educação dos filhos;
    V - respeito e consideração mútuos.
    No artigo dessa semana (Infidelidade virtual), ela defende que um cara que fazia sexo virtual, tipo assim no ICQ ou no bate-papo do UOL, descumpriu o tal artigo da lei, e tem que indenizar a mulher. Já pensou se moda pega? Se cuide. Detalhe: não precisa levar a mina pros "finalmente", mas tem que ter outra pessoa na jogada. Ver revista pornô ou olhar site de mulher pelada, tudo bem. Mas ficar falando de sexo com um terceiro é que caracteriza a infidelidade.

    Ah, se as mocinhas começarem a pedir indenização... Vai faltar advogado.