Depois de um torpedo de boteco, a gente começou a brincar de inventar poemas, pra tirar um sarro. E me fez lembrar que uns 10 ou mais anos antes eu passava o tempo na aula de portugês fazendo poeminhas, inventando sonetos decassílabos. Numa malandragem insconsciente, fazia livrinhos no Word e distribuía pras mocinhas do colegial do Dante, que ficavam encantadas.
Bebum, subi no banquinho e catei os livrinhos na pasta em cima da prateleira do depósito. Li um por um. Dei uma sorte muito grande que resolvi escrever a data de cada poema no pé. Fazendo umas contas, consegui lembrar de quase todas as meninas que ganhavam poemas. Lembrei também que teve muitos que fiz num parnasianismo besta só pra passar os 45 minutos da aula. Teve um que foi redação, e tirou 10. Achei tudo meio brega, sem graça e abarrotado de clichês. Cheio de frases de efeito, palavra, ponto final, rimas que chegam a ser engraçadas hoje. Mas me fiz lembrar que tinha de 14 pra 16 anos, e que pra uma criança (que não deixei de ser) daquela época, achei, modéstia às favas, muito bacana.
Os que eu curti mais relendo, pelas minhas contas, eu fiz pensando na Tati, minha namoradinha surreal e inacreditavelmente linda da oitava série. Que reapareceu no Orkut de tanto que eu procurei. Thanks. Pelo jeitinho que me deu um sofrimento capaz de produzir a parte mais bacana desse livrinho.
É claro que o objetivo inicial desse post era reproduzir o livro, então não vou demorar mais. Vale rir.
Começava com uma dedicatória, escrita assim mesmo:
Para
Minhas lindas inspirações
Me fazendo sorrir
Me fazendo chorar
Mas sempre vivas em meu coração.
Depois tinha índice e tudo, e vinha um primeiro poema que eu não curti tanto, nem sei pra quem foi feito. Pula. O seguinte é certamente pra Tati, no começo do sofrimento.
Desespero
NÃO, NÃO, NÃO!
Não posso mais
Ver como ele te satisfaz
Vê-lo ao teu lado
Me mantendo calado
Com este amor guardado.
Meu coração pulsa aflito
Querendo expelir este amor infinito
Não posso mais agüentar
Sem te confessar
O quanto te amo.
Enquanto isso, nada faço
Quieto fico, não demonstro um traço
Que denuncie meu amor
Que só me causa sofrimento e dor.
Prolongando a minha espera
Te esperando, ah! quem me dera
Quem me dera te beijar
Teu coração possuir
E o meu sossegar.
Porém não adianta se iludir
Enfrentarei todos os obstáculos para chegar a ti
Tocar a tua face
Não mais estar sozinho
Ah! se ao menos me notasses
Notasses como transbordo de carinho.
Mas não te culpo, não é direito
Não se controlam emoções
Que o destino faça o que deve ser feito
Torço eu para que una nossos corações
Outubro de 1991
Desculpa, é absurdamente brega. "Transbordo de carinho"?!? Ugh! Vou pular um, passo pra outro que era um dos meus preferidos na época. Deve ser pra Tati ainda.
O Apocalipse
segundo um poeta apaixonado
Um coração agora vazio
Procura um motivo, uma esperança
E enquanto isso espera, frio
Recordações, velhos momentos, lembranças...
De repente, a descoberta
Um lindo amor até então contido
O coração da ingenuidade desperta
E basta um olhar para estar seduzido.
Com o tempo, vem o fantástico
Uma mistura de prazer e espanto
Num momento, o beijo mágico
A união é pura, transforma-se em encanto.
Estão entregues um ao outro, enfeitiçados
Experimentando o amor com inocência
Deixando-se levar pelo inesperado
Ecantadora sensação da nova experiência.
Se amam e se querem intensamente
Muito tempo juntos pela frente
Mas a fragilidade é aparente
E tudo acaba, de repente...
Ao acaso de olhar de sedução
Aquele amor que jamais acabaria
Vê seu fim num momento de traição
E acaba tudo. Toda fantasia, toda a poesia.
Só restam lembranças
Talvez uma esperança
Não mais o quer agora
Seu coração partido chora
Por alguém que ainda ama
Por um momento...
ah! momentos.
Às vezes tão pouco tempo
Causa tanto sofrimento
Num coração apaixonado
Que espera
Que sofre
Só por ti
A quem eu ainda amo
Apesar da negação
Depois de uma revelação
De uma decepção
Continuas sendo minha doce inspiração
Minha eterna paixão.
Dezembro de 1991
E segue a saga brega... (pode pular).
Condenação
Que fará um homem
Que do seu coração fizer vazio
Frio, só?
Sem amor não há vida.
Só há vida para o amor.
Amor de poucos que o tem
E de outros que o buscam
Sem jamais tê-lo.
Injustiçados.
Será injustiça
Se amor não há para um homem
Que vive somente para quem ama
Ama e sofre
Condenado à solidão
De um coração vazio.
Um homem perde a sua vida
Na busca vã da razão.
Da causa vital, a paixão fatal
Que justifique estar vivo.
Vivo somente para amá-la.
A lua caminhará para satisfazê-la
Para no retorno não encontrá-la.
Encontrar apenas o silêncio
De um amor que se calou
Condenado à solidão.
Lágrimas lhe restam
Por um amor que não mais tem
Perdeu na falta de argumento
No instante em que partiu
A sua razão para viver.
Seu amor hoje é de outro
Que vem, e sem piedade
Leva embora a felicidade
Que jamais tivera
Quando a tem, não há tempo
De prová-la, de senti-la
Vê sua vida se perder sem deixar vestígios
Só lembranças de momentos curtos
Tão curtos que se foram
Para nunca mais voltarem
Deixando um coração batendo fraco.
Sem vida
Pois a vida vem do amor
E o amor se foi
Acabou num instante
Amargo destino
Condenado à solidão.
Eterna.
Janeiro de 1992
Afe, essa dava um belo pagode, eu acho. Como sofre um adolescente. Pulando outros, teve mais uns para ela, outro pra uma mina que eu só olhava no pátio, de repente tem um que se chama "Uma Leve... Sensação De Amor". Acho que alguém me fisgou, e eu curti. Vem alguns por umas moças que eu até lembro que são. E dois anos depois vem esse:
Infinito desejo
Nem hoje, nem jamais
Serei capaz
Meu amor não se desfaz
Teu rosto ainda traz
Meu coração
E o pranto então.
Já tarda aquele inverno
Mas é o mesmo momento frio
Que se foi quando se uniu
Meu lábio ao teu num beijo.
Ele amou, ela sonhou
E ao fim daquele mês
A fantasia se desfez
O silêncio tem sua vez.
Sobre a mesma cama
Uma lágrima (ainda a ama)
Sua paixão, talvez insana
Eternamente inesquecível... Tatiana.
Julho de 1993
Acho que foi a primeira vez que tive coragem de por um nome num poema. E foi mesmo num inverno, durante um mês, na minha caminha de solteiro, que a gente curtiu o namorico. Tem até erro de português, mas é muito bacana lembrar.
Depois, estudando sei lá que movimento literário, deu na telha de fazer sonetos, tinha até título com numeral romano, e fiz um pedaço separado no livrinho. É lá que tá esse, que é o último que eu tenho a manha de mostrar e paciência de digitar:
Para Louise
Se a tristeza resistisse
E a luz não mais eu visse
Talvez a vida se esvaísse
Mas haveria sempre Louise.
Teu sorriso é a alvorada
Teu encanto te faz sonhada
Por quem a alegria procura
E a encontra na tua doçura.
E se por amor te vi chorar
Senti meu peito se apertar
Por cada lágrima que caísse
Dos teus olhos, e se já não o disse
Se algum dia deste amigo precise
Para o que for te acolherei, Louise.
Novembro de 1993
E um dia ela me falou esse poema de cor. Putz, era tudo muito brega e quase copíado do livro de literatura. Mas fiquei muito feliz que minha desorganização não deixou que esses livrinhos sumissem. Aceito encomendas.
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